Mirra, patchouli e manjericão foram alguns dos aromas da água de cheiro usada pelas baianas para purificar as escadarias e o adro da Igreja do Bonfim, nesta quinta-feira (15). A tradicional Lavagem do Bonfim, realizada há 261 anos, reuniu turistas e baianos em uma caminhada de oito quilômetros entre a igreja da Conceição da Praia e a Colina Sagrada, no bairro do Bonfim.
O esforço é para agradecer as conquistas do ano que passou e pedir novas graças para 2015, reafirmando a fé no santo padroeiro do coração dos baianos, que é sincretizado com o Oxalá do Candomblé.
No caminho, apresentação de capoeiristas e samba tocado por grupos de amigos davam o clima mais que popular a esta que é uma das festas mais esperadas do verão baiano, ficando atrás somente do Carnaval.
Em meio ao cortejo, apreciando as manifestações dos baianos, o polonês Jacob Gontarski se juntou a um grupo de capoeira. Queria se aproximar ainda mais do seu objeto de estudo. Há um mês em Salvador, Jacob veio à Bahia para conhecer mais a relação entre o Candomblé e a capoeira e deve continuar na capital até o Carnaval. “A festa é muito boa. Esta é a segunda vez que participo. A primeira foi há oito anos. Agora fico mais tempo e tenho visitado grupos de capoeira e terreiros todos os dias”, explicou.
A colombiana Paola Quiros também acompanhou tudo e se disse maravilhada. “Para mim, este é o único lugar do mundo em que pessoas de todas as classes se misturam. Vim conhecer a festa de Iemanjá, mas não quis perder a Lavagem do Bonfim. Quero ter a experiência cultural e aprender a influência da África no Brasil”, contou a jornalista, interessada no sincretismo religioso.
Na chegada ao Bonfim, fiéis disputaram espaço em frente ao gradil da igreja. Todos queriam amarrar no pulso a famosa fitinha e fazer pedidos. O ritual foi realizado após a bênção do padre Edson Menezes e a entrega das vassouras para o início da lavagem, que emocionou milhares de pessoas. O sinal é de uma convivência harmônica entre as religiões, como destacou o pároco. “Precisamos ter respeito e diálogo para viver o ecumenismo”.
Depois, as ruas da Cidade Baixa, tingidas do branco das roupas do povo, deram lugar ao lado profano da festa, com muita música e encontros regados a bebidas e comidas típicas.
História – A tradição da lavagem começou com os escravos, quando eles preparavam o templo para o domingo festivo. Mulheres vestidas com seus trajes brancos e de torços na cabeça colhiam água numa fonte do bairro, que era levada à Colina Sagrada em lombo de burro.
Durante o trabalho, cantava-se e dançava-se. A devoção ao Senhor do Bonfim teve inicio quando, em 1740, o capitão-de-mar-e-guerra Theodósio Rodrigues de Faria trouxe de Portugal uma imagem similar e no mesmo tamanho da que existia na cidade de Setúbal.
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