Gilles, meu amigo, estava fraco e
indefeso na cama de um hospital. O câncer já tinha tomado todo o seu
intestino. A pneumonia estava avançando, e, Gilles, meu amigo, estava sofrendo
muito.
Como combinado, com Denise sua
filha, liguei para o celular de Denise e, ela passou o telefone para ele. A
primeira coisa que lhe perguntei foi: Francês, como está sua luz? Com uma voz
frágil, triste e mal equilibrada, Gilles respondeu: “A luz está se apagando,
amigo”...
Falamos sobre muitas coisas ao
telefone. Falamos sobre as coisas que sempre falamos e refletimos, juntos: Vida, morte, amor... e, depois de um certo tempo, seu corpo
já frágil, ele, já muito cansado, começou a parar de falar, e, eu me apressei
em me despedir dele, e, mais uma vez: lhe disse o quanto eu o admirava e o amava...
Gilles morreu.
Gilles, certas luzes, como a sua,
nunca se apagam. Sua luz: continuará em nós. Gilles, amigo, mesmo agora,
principalmente agora, depois de sua morte, a saudade que sinto de você: revela,
ainda mais, a força e a lucidez de sua vida, de nossa amizade e de sua luz...
Gilles, amigo: sua luz está aqui
por perto. Bem nítida e bem perto, bem perto.
Gilles, onde você estiver, guarde
um lugar para mim. Deixe perto seu cigarro de palha. Prepare nosso café. Amigo,
Francês, nos reencontraremos em algum início do que deve ser a morte.
Gilles, amigo, agora vou, posso,
e até devo: te chorar, amigo...
por Marcos Cesário