Durante a entrevista coletiva concedida nesta manhã pelo delegado-chefe das investigações do Caso Beatriz, Marceone Ferreira, acompanhado do perito Criminal, Gilmário Lima, na sede da 26° Delegacia Seccional de Petrolina, a falta de monitoramento na área da cena do crime, no depósito onde a menina Beatriz foi encontrada morta, tem dificultado o trabalho da polícia.
A falta de visibilidade das câmeras no circuito interno da escola e no entorno do prédio também tem prejudicado a identificação dos suspeitos de terem participado da morte da menina. A câmera mais próxima do depósito estava a 54m do local.
“No cenário do crime não havia monitoramento. O monitoramento era zero. O monitoramento era somente na frente da escola. No momento do crime toda a iluminação estava desligada. Não havia iluminação nas lâmpadas, nos corredores. Visibilidade zero. Quando a criança foi encontrada, que as luzes foram acesas, passou-se a ter mais visibilidade”, explicou Marceone.
Características da cena do crime
O delegado descreveu também as características físicas do local onde a criança foi encontrada. Segundo o laudo pericial, não foram encontradas gotas de sangue no ambiente do depósito, o que indica que Beatriz foi morta em outro espaço da escola e transportada para o depósito.
“No dia do assassinato havia um fluxo muito intenso de pessoas descendo escadas e vindo para o bebedouro. As pessoas eventualmente saiam pelo portão sanfonado, ficavam conversando nas mangueiras e retornavam para o ginásio. A porta do depósito estava aberta e sem cadeado quando a criança foi encontrada. Próximo ao depósito existe uma outra sala que estava com o cadeado. O depósito já havia sido incendiado. O corpo estava atrás do armário e por isso a dificuldade da primeira testemunha encontrar a criança. Era uma escuridão total dentro do depósito. Não há manchas de sangue na entrada deste depósito, nem no ambiente no depósito como nas paredes. Somente embaixo do corpo da criança”, afirmou.
Segurança
No dia do crime havia na escola quatro pessoas que faziam a segurança da festa e estas contavam com o auxílio de dois assistentes de segurança que estavam posicionados dentro do ginásio. Segundo o delegado “Dois estavam na entrada principal da festa, um segurança no portão da frente e um segurança na área interna da escola, que cobriria a área das mangueiras e também a área um pouco afastada da escola, a área infantil”.
Laudo técnico
Durante a coletiva, Marceone também deu mais detalhes sobre a conclusão do laudo técnico que aponta a participação de mais de uma pessoa no assassinato de Beatriz. “O laudo é bastante técnico e cientificamente explica porque a criança não foi morta naquele local, mas em outro, e foi transportada para aquele local. Isso requer uma logística muito grande e requer a participação de mais de uma pessoa. Requer pessoas que estavam em vigilância, os partícipes e o executor. Com a conclusão do laudo nós viemos confirmar o que as investigações já vinham apontando”.
Sumiço de chaves da escola
Um fato revelado pela Polícia Civil é que três chaves sumiram do Colégio Maria Auxiliadora dez dias antes do crime. A polícia suspeita que isso pode ter contribuído no acesso de pessoas a cena do crime ou na evacuação dos suspeitos do local. “No dia 25 de novembro desapareceram 3 chaves da penca que ficavam com os funcionários da escola. As chaves davam acesso a pontos importantes próximo ao local do crime. Para a pessoa sair teria que ter acesso ao ginásio, a não ser que teria uma chave. As chaves passaram de mão em mão entre os funcionários e não foram encontradas”, afirmou o delegado.
Personagens
As investigações apontam cinco personagens, não tiveram os nomes revelados, que são vistas pela polícia como suspeitas de envolvimento com o crime. Essas pessoas trabalham na escola.
“As imagens apontam que o personagem 1 estava bastante nervoso, inquieto, exatamente na hora que o crime estava ocorrendo. O personagem 2 negou ter estado dentro da quadra, mas as imagens mostram o contrário. Mentiu várias vezes. O personagem 3 pediu para não trabalhar dentro da quadra no dia do crime, disse não ter estado na quadra, mas testemunhas comprovam que o viram. O personagem 4, que mostra uma mulher seguindo em direção ao depósito, transitando várias vezes próximo ao local dentro do intervalo de tempo que a criança desapareceu. O personagem 5 as imagens mostram essa pessoa entrando em uma sala vazia e fica inicialmente por 40min dentro da sala e depois volta para essa sala vazia e permanece por 1h. Só saiu dessa sala quando o crime, certamente já havia acontecido”, frisou Marceone.
Retrato Falado
Durante a coletiva, o delegado Marceone reforçou que o retrato falado divulgado pela Polícia Civil é válido e trata-se de uma pessoa que participou diretamente do crime e que, inclusive, foi essa pessoa que abordou Beatriz.
“Não surgiu do acaso o retrato falado, como se chegou a especular. Isso aqui é uma investigação de alta complexidade. Não queremos achar um culpado, nós queremos o culpado. Com o avançar das investigações nós já temos 9 testemunhas que confirmam a presença dessa pessoa no local próximo onde a criança foi abordada. Essas pessoas confirmam também a cor da camisa que era verde. Quando a criança desceu ele estava no bebedouro e sozinho. A pessoa que abordou a criança foi ele. Uma outra criança foi abordada por essa mesma pessoa. Ele teria chamado essa criança para pegar uma mesa que ficava naquela sala que estava ao lado do depósito. Desde às 20h que já se tem notícia da presença dele na área do bebedouro, dentro do banheiro feminino, masculino. Não restam dúvidas que ele é um dos autores diretos do crime. Uma testemunha desceu dois minutos antes de Beatriz e já encontrou com ele vindo da direção do depósito. A testemunha se assustou, ficou mais uns 30 segundos. Ela assustada subiu. Quando ela subiu passou por Beatriz. Nós temos uma testemunha, um adulto, que desce 29 segundos após Beatriz e vai para o bebedouro. Essa testemunha já não viu Beatriz. Foi uma ação muito rápida de pegar acriança ou alguém conhecido levou a criança. Quando essa testemunha desceu ela avistou pessoas embaixo da mangueira. Essas pessoas, certamente, ou participaram ou viram e estavam dando cobertura ou são realmente participantes direto do crime”, declarou Marceone.
Prisão de suspeitos
Com a divulgação do retrato falado algumas pessoas foram detidas e ouvidas pela Polícia Civil. Segundo o delegado, para prender alguém é preciso provas e que a polícia tem elementos para dizer quem foi a autor do crime. “Foi um caso premeditado, é o que vem demostrando as investigações. Ninguém por um acaso vai montar, chegar e ter toda uma logística dentro de uma cena. A prisão é uma medida cautelar séria e não podemos tomar essa medida sem elementos. Não é um caso qualquer que se prende e solta por falta de provas. É preciso muita cautela", disse.
Vítima aleatória
Segundo a polícia os assassinos de Beatriz a escolheram de forma aleatória. “Foi abordada uma outra criança e Beatriz não foi induzida a descer ao bebedouro. Ela desceu porque a água dela acabou. Ela pediu a mãe. Foi questão de oportunidade”, disse Marceone.
Próximos passos da investigação
O delegado Marceone e o perito Gimário preferiram não passar outros detalhes do andamento da investigação, já que preferem seguir em sigilo.