Apesar do cenário econômico desfavorável dos últimos anos, o chamado Movimento Empresa Júnior (MEJ) tem crescido no país e também na Bahia. As empresas juniores baianas cresceram 81% em número de projetos em relação ao ano passado e movimentaram cerca de R$ 1 milhão em 2017, segundo a Federação de Empresas Juniores da Bahia (UNIJr-BA).
As empresas juniores são formadas e geridas por estudantes de ensino superior que buscam uma experiência de imersão no mercado de trabalho e desenvolver o empreendedorismo. Sem fins lucrativos, seu faturamento é reinvestido na própria empresa e capacitação dos membros.
O crescimento da modalidade tem a ver com a própria crise econômica, que revelou as empresas juniores como alternativas mais baratas de prestação de serviços. Por se tratar de estudantes buscando experiência, as chamadas EJs costumam praticar preços em média 30% a 40% mais baratos que a média de mercado, de acordo com a UNIJr-BA.
"Como não temos tantos custos operacionais, tendemos a cobrar preços menores, então ficamos em evidência", conta Gabriel Silveira, vice-presidente da empresa júnior Engetop, formada por alunos de engenharia civil da Universidade Federal da Bahia.
Outro fator seria o fortalecimento interno do MEJ, com as empresas se integrando cada vez mais e buscando parcerias. "É comum buscarmos outras EJs, como as de direito para elaborar contratos, ou as de comunicação para a identidade visual do cliente, e assim oferecemos soluções mais completas", diz Alanna Marzola, presidente da UNIJr-BA e membro da Primus Consultoria, formada por alunos de administração da Unifacs.
Credibilidade em alta
Para o estudante de administração e presidente da EJ Primus Consultoria, Thiago Gaspar, a credibilidade do movimento de empreendedorismo estudantil no mercado tem aumentado. "As empresas passaram a ter mais confiança no movimento jovem, e o que era prejudicial acabou virando uma vantagem", conta.
A empresa júnior tem trabalhado com empresas maiores e ganhado capacitações. "Trabalhamos com clientes grandes este ano, como a Burger King e a Ambev, e ganhamos visitas e experiências práticas", conta o estudante. O apoio das empresas pode abrir portas para empregos no futuro, já que muitas buscam preencher vagas com membros de empresas juniores.
No entanto, segundo Thiago, ainda existe um preconceito com o trabalho das empresas juniores, por serem constituídas por estudantes em formação. "O que nos ajuda mais é nosso portfólio, nossos parceiros e as pessoas que ajudam em nossas decisões. Somos sempre amparados por professores tutores", diz.
Roberto Martins, dono da empresa de representação comercial J M Martins, conheceu o movimento empresa júnior há três anos, em um congresso de atacadistas onde estudantes apresentaram a proposta das EJs. Interessado pela proposta, quis procurar uma empresa júnior este ano, quando precisou de consultoria para sua companhia. Ele contratou os serviços da ADM Ufba, composta por alunos de administração da Ufba.
Para ele, o fato de os membros ainda estarem na faculdade foi um incentivo. "Eles têm vontade de fazer o melhor e se esforçam para se adaptar às necessidades da empresa. É diferente de uma empresa que já tem seu modus operandi pronto", conta.
Roberto argumenta que, apesar de não terem a expertise de um profissional especializado, os alunos participantes da empresa júnior desenvolveram um bom diálogo com a equipe de sua empresa. "Num primeiro momento eles podem não saber muito sobre um assunto, mas buscam aprender e conseguem passar confiança com o passar do tempo", diz o empresário.
Nichos de mercado
O preço também foi um fator determinante na escolha da empresa júnior pela J M Martins. A empresa é de pequeno porte e encontrou na ADM Ufba valores abaixo da média de mercado.
Alanna considera que as pequenas e médias empresas são um importante público para as EJs. "A gente consegue atender a nichos que outras empresas não alcançam, como empreendedores que acabaram de abrir a própria empresa, e pequenos empresários que não têm tantos recursos para investir", conta a estudante. Para ela, os preços baixos praticados pelas empresas juniores não se configuram como concorrência desleal.
"Não temos uma estratégia de canibalismo de mercado. Algumas pessoas acham que estamos roubando seus clientes, mas atendemos públicos diferentes", conta. Ela também lembra que o MEJ tem um compromisso social de ajudar as empresas clientes a crescerem e melhorarem, incentivando a economia.
Gabriel conta, no entanto, que o preço competitivo precisa ser encarado com cuidado. "Não trabalhamos pensando em quão mais barato o serviço vai ser. Contamos com a ajuda dos professores para saber se os preços estão coerentes com o projeto e o mercado, não queremos desvalorizar a área em que queremos inserir", pondera.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló