Os empregados de 16 empresas brasileiras, todas elas localizadas fora da região Nordeste, irão testar um inovador modelo de trabalho que inclui uma jornada de quatro dias semanais, sem qualquer redução salarial.
A iniciativa é da consultoria Reconnect Happiness at Work e da ONG 4 Day Week Global. Os seus representantes dizem que a intenção da redução da carga horária é criar um ambiente de trabalho mais produtivo e aumentar o nível de satisfação dos colaboradores.
O projeto não prevê meramente a exclusão de um dia de trabalho, mas sim a revisão de algumas atividades. As empresas participantes reduzirão a duração das reuniões, autorizaram atividades e definirão prioridades. O trabalhador, por sua vez, reduz 80% do tempo de trabalho, ganha o mesmo que antes, desde que também se comprometa que sua entrega seja 100%.
“Nos baseamos em testes realizados mundialmente, em países como Reino Unido, Estados Unidos, Irlanda e Dinamarca, para demonstrar, via comunicação, os benefícios da implementação do modelo. Em 1926, o trabalho era caracterizado pelo esforço repetitivo e braçal, enquanto que em 2023 – quase 100 anos depois –, continuamos atuando como antes. É preciso rever esse modelo e o sucesso no mercado de trabalho dependerá da capacidade de ser criativo, inovador e humano”, explica Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work.
Um dia adicional de folga, prevê a iniciativa, vai proporcionar ao colaborador mais tempo para cuidar de aspectos pessoais e da própria vida, o que pode contribuir positivamente para o bem-estar, saúde mental e a sensação de felicidade da pessoa.
“Uma empresa com iniciativas inovadoras, que permitem que seus colaboradores tenham mais tempo para cuidar de outras esferas da vida, retrai talentos. Sem contar que funcionários mais satisfeitos têm maior probabilidade de serem produtivos”, analisa a consultora de RH Patrícia Almeida.
Carlos Baraúna, empresário e especialista em análise de mercado, expressa a opinião de que o modelo de trabalho ainda não está amplamente estabelecido em todo o país. Ele considera que, apesar dos resultados positivos que possam surgir desse experimento, levará tempo até que a maioria das empresas brasileiras o adote de forma definitiva. A probabilidade de adesão a jornadas reduzidas é mais elevada em setores específicos.
“São iniciativas que fazem mais sentido, neste momento, por exemplo, para startups, empresas de tecnologias e afins, dificilmente chegará ao setor de bens e serviços, por exemplo”.
A redução da jornada de trabalho para quatro dias não afeta os direitos fundamentais dos trabalhadores, de acordo com advogada Ana Paula Cardoso do escritório Aparecido Inácio e Pereira Advogados Associados, uma vez que, independente do modelo, a legislação trabalhista prevê limites máximos de trabalho, mas não mínimos.
“A Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que a duração normal da jornada de trabalho não deve exceder as oito horas diárias, havendo a possibilidade de duas horas extras. Independente do modelo, a legislação trabalhista prevê limites máximos de trabalho, mas não mínimos. A realidade é que a semana de quatro dias não se trata sobre redistribuição de horas, e sim a redução efetiva da jornada de trabalho”, explica Ana Paula.
“Para que haja êxito na implementação da semana de quatro dias, é necessário que as empresas realizem treinamentos sobre a nova configuração e que esta seja implementada aos poucos, observando os relatos dos profissionais, caso haja melhorias a serem realizadas”, completa.
Correio 24horas